O que aprendi com: SINA?
- Misterdovah

- 16 de out.
- 5 min de leitura
Depois de um hiato de dois anos sem criar absolutamente nada voltado para jogos, decidi aventurar em novos projetos com a intenção de revisitar os conhecimentos técnicos do Rpg Maker. Sentei à frente do computador, botei a cachola pra ferver e deixei surgir uma cena: três pessoas, em frente a uma porta, decifrando como seguir caminho. Esse foi o início de uma das narrativas mais legais que sonhei: Sina.
Personagens:
Yun: o herói protagonista da história. Uma criança ingênua, corajosa e fofa. Não possui família, foi adotado pelo velho Loo, a quem chama de mestre e de quem recebe missões para cumprir em parceria de sua melhor amiga, a fada Jennie.
Jennie: uma fada que acompanha Yun em suas aventuras com um objetivo no coração. Jennie precisa ajudar uma pessoa pura para, de acordo com a cultura de seu povo, adquirir asas de verdade e tornar-se um ser iluminado.
Morimori: um acidente de percurso. Mori se junta à dupla após eles se perderem em uma caverna onde Mori, um crânio animado, descansava eternamente. Em contraste com Yun e Jennie, Morimori é desbocado, debochado e ácido, amoral por excelência (até que se prova o contrário).
Senhor Loo: um homem misterioso de quem nada se sabe, apenas que ele adotou Yun e Jennie e os manda para coletar preciosos focos de energia, chamados de Kruhls, derrotando inimigos nas florestas e cavernas.
Reid: um megalomaníaco conquistador que está em uma jornada para erradicar o mundo dos seres fantásticos. As fadas são suas principais inimizades e ele convoca exércitos de homens para cometer as maiores atrocidades contra quem ele odeia.

Enredo:
A narrativa começa com uma cena misteriosa: um homem entra numa casa, encontra um gato, mata-o e leva um bebê. Em seguida, corta-se para Yun e Jennie em uma caverna onde encontra Mori em seu sono mórbido. Juntos devem encontra uma forma de sair de lá, mas um acidente muda sua rota. Acabam em uma região longe de onde deveriam estar, porem Jennie reconhece o local e encontra um templo de fadas escondido no topo de uma montanha. A sacerdotisa os orienta a seguir pela floresta, um rumo tenebroso que os levará para um destino inimaginável. No caminho, encontram uma antiga mansão, que na verdade que esconde um segredo. Em transe, Yun entra em contato com a egrégora que mora ali, uma fada maligna que se esconde e usufrui das priores formas da toda vida local. É nesse momento que ele se perde para sempre de seus amigos. A partir de então, segue-se a descoberta de sua vida por trás de tudo o que pensou ser real. Seria a vida, de fato, uma Sina no tabuleiro de xadrez do Divino?

Comentários do Dev (Contém Spoilers)
SINA foi uma narrativa deliciosa de fazer. Mesclar a ingenuidade das personagens, a beleza dos cenários e a crueldade do coração humano é um paradoxo que gosto muito de trabalhar nos meus enredos. Seguem alguns dos desafios com ideias e mecânicas que surgiram no caminho:
a) As batalhas: eu queria explorar as batalhas do Rpg Maker. O balanceamento é muito difícil de fazer, porém a criação de habilidades e itens me foi muito prazerosa. Ainda faltava algo muito importante: dar sentido a elas. Foi nesse aspecto que creio ter falhado no projeto. As batalhas não são difíceis e a recompensa por elas, no início, era nula. Depois de alguns testes, resolvi colocar, no lugar de experiência, os Kruhls que Loo pede que coletem. Mas o que fazer com isso? O número de Kruhls coletados só faz sentido ao final da história, pois modifica delicadamente o diálogo entre Yun e Loo. Sem dúvidas eu reestruturaria isso para garantir um game design interessante e caso de refazer o projeto. Enfim, aprendizados!
b) A morte de Jennie: a nossa pequena fada tem um sonho de se tornar iluminada, apra guiar pessoas em suas vidas. Seu sonho é alvo do deboche de Mori, que a chama de tocha. Não ironicamente, esse era a sua sina. Enquanto Yun estava em transe, o exércio de Reid encontra o grupo e prendem os dois, deixando o menino vivo (porque ele é humano). Mori é quebrado e se torna latrina no acapamento. Jennie sofre todo tipo de violência na mão do grupo de homens raivosos e é empalada e queimada em frente à mansão. Yun, ao encontrar o corpo de sua amiga, tem uma experiência sobrenatural com uma entidade que dele empresta imagem e voz: a Dor. È um dos momentos mais emocionantes do jogo, pois trabalha a brutalidade da matéria e a delicadeza do espiritual.
c) Yun x Reid x Loo: o paradoxo das realidades. Durante o jogo, essas figuras se interconectam em cenas esparsas. Loo, na verdade, está guiando Reid em busca do portal que tudo realiza. Loo também cria Yun para coletae Kruhls e alimentar esse feito mágico. O que se descobre no final, é que todos são a mesma pessoa. Em sua linha do tempo, Loo conquistou e destruiu, percebendo que não era o melhor caminho. Voltou ao passado e resgatou a si mesmo (o bebê do começo do jogo) e também encontrou uma forma de se deparar disfarçadamente com seu eu jovem (Reid), antes que fizesse as besteiras que fez. Dito isso, esse é o momento em que o jogador deve escolher quem deve ser sacrificado para o portal: Yun (o passado), Reid (o presente), Loo (o futuro). Cada escolha leva a finais diferentes. Yun apresenta o final mais poético (um diálogo sobre vida, morte e reencontro com Jennie e Mori). Reid apresenta o final mais cruel (as fadas dominam o mundo e escravizam os humanos). Loo apresenta o final da ordem natural (Reid cria Yun como seu filho, descobre uma forma de transpor sua alma para o corpo da criança e assim torna-se imortal, sempre indo e vindo dos corpos de seus filhos...ou clones...).
d) O diálogo entre Loo e Reid: Loo é astuto, manipula Reid em seu ponto mais fraco, ou seja, o orgulho. Reid sabe como distorcer a verdade e despertar o pior de seus seguidores, pessoas comuns, sem perspectiva de vida, que querem apenas se sentir importantes e que acham que eliminando os demais povos podem garantir um futuro melhor para as próximas gerações. Através da moral rígida, higienista e cruel, Reid conquista e Loo arbitra tudo pelos bastidores.
_________________________________________________________________________
Planos para Sina? Sim, refazer o jogo de modo mais profissional e criar Sina 2, cuja narrativa já está pensada. Um dos finais é o canônico, mas somente no novo jogo é que poderemos ver qual. O que aprendi, enfim? Que eu preciso pensar fora da minha visão, da minha ansiedade de provocar reações e como é complicado convencimento para se manter do início ao fim na aventura. A noção de que a teia se desenrola para além da minha vontade se consolidou aqui.


Link para o jogo: Sina.




Comentários